O QUE É O RETIRO ESPIRITUAL E COMO FAZÊ-LO?
Certamente, você já investiu muito tempo de seus dias para “Pensar na vida”? De fato, a vida é um “quebra-cabeça” que, constantemente, desejamos desvendar. As preocupações, os problemas que enfrentamos, muitas vezes, nos tiram o equilíbrio emocional e espiritual que precisamos ter para “estarmos bem”, com tudo e com todos. Não é difícil ouvir alguém, dizer “preciso de um tempo”. Esse tempo que ajuda a recobrar a inteligência para fazer as escolhas certas. Esse tempo no qual buscamos mergulhar no silêncio que permite um encontro consigo mesmo mas, principalmente, esse tempo nos permite um encontro com Deus Criador, o nosso Pai. É Ele quem pode nos indicar o caminho da felicidade plena.
Pois, esse tempo nós podemos chamá-lo de Retiro, um tempo de reflexão que nos permite entender melhor o “quebra-cabeça” da nossa existência, examinar como tem sido a nossa vida até agora e direcionarmos o nosso futuro.
Precisamos direcionar o nosso futuro porque somos peregrinos e, por isso, temos uma meta a alcançar e isso precisa ser claro na vida de um cristão. O Cardeal Carlo Caffarra, em seu discurso, por ocasião da Jornada Mundial pela Paz, diz algo interessante a esse respeito:
“A nossa vida é um caminho, mas nós temos três modos de caminhar: a vagabundagem; o turismo; o peregrino. O vagabundo não sabe onde andar, não tem uma meta em direção à qual andar; navega sempre e sem rumo porque não possui um porto sobre o qual orientar-se. O turista gira por um território a olhar aquilo que acha interessante a ser visitado, mas sem jamais ancorar-se. O turismo não é mais do que um parêntesis da verdadeira vida. O peregrino tem uma meta e assim sabe onde deve andar; tem uma orientação”. [1]
O Retiro Espiritual, como o próprio nome diz, é uma atividade espiritual que dá possibilidade ao participante de olhar os principais pontos da vida, o que está bem, o que está mal e como melhorar. Retiros podem ter diversos formatos e duração. Podem durar uma manhã, um dia, dois dias, uma semana e em alguns casos até mais dias.
Nós queremos oferecer a vocês o conteúdo e o itinerário para fazer o retiro. A duração será uma escolha de quem participa. Você poderá reservar uma manhã para fazer o seu retiro. Escolha um lugar onde você possa vivenciar o silêncio, mas um silêncio que te dará a possibilidade de “escutar” o que Deus tem a lhe dizer. Você precisa escolher um ambiente adequado e criar condições para que o seu coração se abra para Deus.
O fruto do Retiro é a intimidade com Deus. Essa intimidade nos facilitará encontrá-lo no dia a dia: no trabalho, no estudo, no descanso, nos momentos com a família, nos momentos com os amigos, etc. Para isso, você precisa contar com um clima de serenidade, de paz, de silêncio, que lhe permitirá sair do corre corre diário para entrar nas questões mais profundas da existência, da felicidade, do que motiva a viver cada dia, o seu projeto de vida, os seus sonhos, a sua amizade com Deus.
ITINERÁRIO PARA O RETIRO ESPIRITUAL
1) Escolha uma data dentro do mês. Se possível, um domingo pela manhã. Cada um escolhe o melhor momento. Mas lembre-se que você precisará de um tempo onde o silêncio vai contar muito. Por isso pense bem no tempo e no ambiente. Estar em meio à natureza ajuda muito. Se você estiver na convivência com a família, quem sabe você possa propor o Retiro a todos os membros da sua família. Se isso não for possível, faça você.
2) Sugerimos que você desligue o seu celular e abra um caderno onde você possa anotar suas ideias, decisões, desejos, escreva pequenas orações que te conduzam à presença de Deus, uma conversão filial e amorosa com a Santíssima Trindade, debaixo da proteção de Nossa Senhora e São José.
3) Comece fazendo uma oração invocando a ação do Espirito Santo. Feche os olhos e medite a sua oração. Repita-a se for necessário, se você perceber que a rezou com distração.
4) Depois de ter rezado, tome nas mãos o texto sugerido para a meditação. Faça uma primeira leitura. Finalizada a leitura, desvie o olhar do texto e faça um esforço para lembrar o que você acabou de ler. Se não conseguir medite-o novamente e faça isso quantas vezes você achar necessário. O objetivo não é decorar o texto, mas meditá-lo entendendo a mensagem que ele quer transmitir. Você precisa “debruçar” sobre o texto meditando-o ao menos 30 minutos[2].
5) Depois de ter meditado o texto, agora tome nas mãos o texto da Palavra de Deus que será sugerido mensalmente. Faça a mesma coisa que você fez com o primeiro texto.
6) Meditados os textos, agora reserve um tempo para a sua oração pessoal. Esse tempo nós chamamos de “deserto”. No deserto você é chamado a olhar a sua vida. O seu olhar deve estar iluminado pela palavra que acabara de meditar. No tempo de deserto você é convidado a “rezar a vida”.
7) Retirar-se, meditar, olhar para dentro de si. Agora reze. Fale com Deus sobre as descobertas que fez, peça a cura, a direção, peça a força do Alto para não desanimar.
8) Depois de retirar-se, meditar, olhar para dentro de si, chega o momento de você fazer o seu Exame de Consciência. Seguindo as perguntas que lhe serão propostas, você é convidado a avaliar a sua caminhada e identificar as suas falhas. O Exame de Consciência é tempo oportuno para fazer os seus propósitos para uma verdadeira conversão.
9) Após o seu exame de consciência, o quando for possível, aproxime-se de um sacerdote[3] e peça-lhe para lhe atender em confissão[4]. A confissão, costuma-se dizer, deve ser composta por “4 C”:
- A) Clara: indicar qual foi a falta específica, sem acrescentar desculpas.
- B) Concreta: referir o ato ou pensamento preciso, não usar frases genéricas.
- C) Concisa: evitar dar explicações o descrições desnecessárias.
- D) Completa: sem calar nenhum pecado grave, vencendo a vergonha.
- Faz parte deste momento a sua oração de contrição. Certamente ao final da sua confissão, o sacerdote vai lhe pedir para rezar o seu “Ato de Contrição”[5]. A esse respeito nos diz o Papa Francisco: “A contrição é o pórtico do arrependimento, é essa senda privilegiada que leva ao coração de Deus, que nos acolhe e nos oferece outra oportunidade, sempre que nos abramos à verdade da penitência e nos deixemos transformar pela sua misericórdia” [6]. É importante que você receba a absolvição de seus pecados. Com a absolvição você se reconcilia com Deus e com os irmãos. O fruto do teu retiro é a CONVERSÃO.
Pronto, podemos concluir aqui a nossa reflexão a respeito do Retiro Espiritual. Agora é com você. Todos os meses a Pastoral Universitária do UniSALESIANO estará propondo para você um tema para fazer o seu Retiro Espiritual. O convite está feito, agora é com você.
Pe. Paulo Eduardo Jácomo, sdb
Pró-Reitor de Pastoral
[1] Cardeal Carlos Ferrara (1938-2017), Arcebispo de Bologna (Itália) por 12 anos; Discurso por ocasião da Jornada Mundial pela Paz; Catedral de Bologna 1 de janeiro de 2011 in CAFFARRA Carlo, Prediche Corte, Tagliatelle Lunghe, Spunti per L’Anima, Edizione Studio Domenicano, Bologna, 2017.
[2] Olhar para dentro de si iluminado pelos textos que acabaram de ser lidos e rezados. A meditação, seu contato com Jesus após a leitura, deve ajudá-lo a olhar para dentro de si, fazer uma leitura de sua caminhada e identificar os pontos que precisam ser melhorados, onde a cura de Deus precisa chegar.
[3] “Confessar-se com um sacerdote é um modo de pôr a minha vida nas mãos e no coração de outro, que nesse momento atua em nome e por conta de Jesus. (…) É importante que vá ao confessionário, que me ponha a mim mesmo frente a um sacerdote que representa Jesus, que me ajoelhe frente à Mãe Igreja chamada a distribuir a misericórdia de Deus. Há uma objetividade neste gesto, em ajoelhar-me frente ao sacerdote, que nesse momento é o canal da graça que me chega e me cura”. Papa Francisco, O nome de Deus é misericórdia.
[4] “O sacramento da Reconciliação é um sacramento de cura. Quando me confesso é para me curar, para curar a minha alma, o meu coração e algo de mal que cometi… O perdão dos nossos pecados não é algo que possamos dar a nós mesmos. Eu não posso dizer: perdoo os meus pecados. O perdão é pedido a outra pessoa e na Confissão pedimos o perdão a Jesus. O perdão não é fruto dos nossos esforços, mas uma dádiva, é um dom do Espírito Santo”. Papa Francisco, Audiência geral, 19.II.2014.
[5] Existem várias orações que servem para manifestar a contrição, por exemplo, a seguinte:
Meu Deus, arrependo-me de todo o coração de todos os meus pecados e detesto-os, porque ao pecar, não só mereço as penas que causam, mas principalmente porque te ofendo a Ti, sumo Bem e digno de amor acima de todas as coisas. Por isso proponho firmemente, com a ajuda da Tua graça, daqui em diante não voltar a pecar e fugir de toda a ocasião de pecado. Amém.
[6] Papa Francisco, O nome de Deus é misericórdia.
