Identificar corretamente a morte encefálica e saber comunicar a notícia às famílias pode significar a chance de salvar muitas vidas. Com esse propósito, a OPO (Organização de Procura de Órgãos) do Hospital de Base de São José do Rio Preto realizou em Araçatuba, no UniSALESIANO, nos dias 15 e 16 de agosto, mais uma edição do Curso de Determinação de Morte Encefálica (CDME).
A capacitação reuniu profissionais de saúde de toda a região, com o objetivo de qualificar as equipes para a identificação assertiva da morte encefálica e aprimorar a comunicação com famílias em situações críticas, fator decisivo para a aceitação da doação de órgãos.
Segundo o médico coordenador da OPO, Dr. João Fernando Piccolo, a iniciativa busca garantir a segurança no diagnóstico e também fortalecer a rede de profissionais preparados para lidar com um dos momentos mais delicados vividos pelas famílias.
“A morte encefálica não é apenas sobre doação de órgãos, mas o transplante depende dela. É essencial que os profissionais estejam capacitados para oferecer segurança e clareza nesse processo, dando visibilidade e confiança às famílias”, destacou.
ACOLHIMENTO
O curso abordou desde aspectos históricos, éticos e legais da determinação de morte encefálica até metodologias de exame clínico, teste de apneia e exames complementares. Outro eixo central foi a comunicação com familiares enlutados, ensinando estratégias para acolher e orientar sobre a possibilidade da doação.
A programação contou com a particioação de médicos com experiência e referência no assunto: Jorge Luis dos Santos Valiatti, Joel de Andrade, Antonio Luis Eiras Falcão e Luiz Antônio da Costa Sardinha.
De acordo com o médico intensivista e Coordenador Estadual de Transplantes de Santa Catarina, Dr. Joel de Andrade, a preparação da equipe de saúde vai além da técnica. “O curso de comunicação em situações críticas é destinado a criar pontes entre profissional e família, com dois objetivos básicos: primeiro, que o profissional consiga se fazer entender; e segundo, que saiba interpretar as reações e necessidades da família”, explicou.
Desde sua criação, a OPO do Hospital de Base já capacitou mais de 700 profissionais em mais de 140 municípios das regiões de saúde de Araçatuba e São José do Rio Preto, consolidando-se como referência regional.
Os resultados já podem ser vistos: em São José do Rio Preto, a taxa de doadores alcançou 31 por milhão de habitantes (pmp), acima da média do Estado de São Paulo (22 pmp) e próxima a estados referência, como Paraná e Santa Catarina (42 pmp).
Na região de Araçatuba, a mudança também é significativa. O coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) da Santa Casa de Araçatuba, Dr. Rafael Saad, destacou a importância da parceria. “Antes da implantação da nossa Comissão, em 2015, tínhamos, em média, uma doação por ano. Hoje, com o apoio da OPO do HB, chegamos a até 18 doações anuais”, lembrou.
BRASIL
O Brasil é hoje o segundo maior transplantador de órgãos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mais de 88% dos transplantes são realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), de forma integral e gratuita, reforçando a necessidade de políticas públicas e da mobilização de profissionais de saúde.
A capacitação realizada no UniSALESIANO representa mais um passo para fortalecer a rede de doação e transplantes, garantindo não apenas diagnósticos seguros, mas também acolhimento humanizado às famílias — transformando o luto em esperança para milhares de pacientes que aguardam na fila por um transplante.