A impressora 3D transforma filamentos de plástico em peças de mãos biônicas. Quando o processo termina, o material é levado para salas de aula do Unisalesiano (Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium), em Araçatuba. Estudantes dos cursos de engenharia utilizam os componentes no aprendizado desde 2016. A novidade é que agora as mãos podem ganhar um novo destino depois das atividades de ensino. A ideia do físico e professor de engenharia Edval Rodrigues, é doá-las a pessoas com deficiência que demonstrem interesse em recebê-las.
Embora sejam simples, as estruturas podem ser utilizadas como órteses. No caso, elas são diferentes das próteses, que, por sua vez, substituem órgãos. Porém, as peças permitirão ao usuário fazer movimentos básicos e carregar objetos por meio de um mecanismo de tração, segundo Rodrigues. “É um auxílio a atividades que a pessoa possa fazer”, afirma.
Há dois tipos de voluntários que se encaixam na iniciativa e podem receber as mãos, segundo o fisioterapeuta e engenheiro mecatrônico Fernando Henrique Alves Benedito, orientador de estágio supervisionado da instituição. O projeto atenderá pessoas que nasceram sem um membro ou que passaram por amputações devido a acidentes ou doenças, como diabetes e hanseníase.
Surgimento
O professor conta que antes do projeto, as peças impressas eram engavetadas depois de utilizadas em aulas. “Nosso objetivo é que esse material não fique guardado e, sim, seja doado. Isso sem que as famílias tenham custos.”
Desde 2010, o foco do trabalho de Rodrigues são as chamadas tecnologias assistivas, ou seja, desenvolvidas para ajudar pessoas com deficiências. A ideia de imprimir as peças biônicas surgiu por meio de pesquisas na internet.
Ao realizar levantamentos online, o professor encontrou vídeos e o site da ONG norte-americana Enable The Future. A organização disponibiliza protótipos para impressão e manuais. A entidade, que possui filial no Brasil, também procura voluntários que queiram produzi-los e fornecê-los a pessoas sem mãos, respeitando as orientações sobre o uso.
Rodrigues usa modelos da ONG em aulas com as turmas de engenharia elétrica, mecânica e de bioprocessos há dois anos. O objetivo inicial era permitir que os estudantes analisassem a resistência de materiais usados nos mecanismos.
Impressão
De acordo com o professor, cada mão leva em torno de 48 horas para ser impressa. A matéria-prima utilizada no processo são filamentos de plásticos. Eles são aquecidos a 200 graus Celsius e liberados pela impressora em uma atividade que lembra uma aranha produzindo teias. A impressão é feita por partes. Depois disso, os alunos levam três dias para lixar e montar as peças.
Os estudantes já finalizaram cerca de 20 órteses, porém esse material não será direcionado para a doação. Para evitar que o usuário tenha problemas, é necessário que seja feita uma medição para que as peças possam ser encaixadas nos pulsos de cada paciente. Esse trabalho deverá ser feito com ajuda dos cursos de saúde.
O acompanhamento é obrigatório, segundo Benedito. “Para que seja possível a aplicação em um paciente, tem que ser feita a avaliação e a adaptação dessa órtese por meio de fisioterapia”, esclarece o fisioterapeuta. A equipe de saúde fará a reabilitação do voluntário e checará se a órtese está confortável.
Além de criar estruturas adequadas para cada voluntário, o professor também pretende personalizar o material. As órteses podem ter aparências antropomórficas ou ser construídas em estilo robótico. Também é possível criar mãos com referências a super-heróis, como Batman, Homem de Ferro e Homem-Aranha. “Faz diferença para as crianças.”
Interessados em receber as mãos podem entrar em contato com o professor pelo telefone (18) 99817-1808 ou pelos e-mails edvalrv@hotmail.com ou edvalrv10@gmail.com.